XX Congresso Brasileiro de Primatologia

Dados do Trabalho


Título

Decolonialidade e taxonomia das novas espécies de primatas descritas desde 1990: uma análise preliminar

Corpo do texto

O colonialismo científico, processo no qual a aquisição e divulgação do conhecimento sobre uma nação é centralizado externamente, é evidente na taxonomia desde os “descobrimentos”, quando os europeus colonizaram as terras do chamado “Novo Mundo”, e nomearam as espécies segundo o sistema de classificação de Linnaeus. Tais práticas se perpetuam de inúmeras formas na produção do conhecimento científico. Neste trabalho, realizamos uma revisão bibliográfica para avaliar a produção e divulgação do conhecimento taxonômico em 130 novas espécies de primatas descritas desde 1990, com especial atenção aos primatas das Américas, analisando a nacionalidade dos autores, suas afiliações institucionais e os periódicos de publicação. Embora a participação de autores estrangeiros varie entre os continentes, notamos para os primatas americanos um aumento significativo de autores nativos ao longo do tempo, muitos vinculados às instituições estrangeiras, o que reflete uma complexa interação entre autonomia local e dependência externa contínua. As publicações tenderam a ser em revistas internacionais, majoritariamente dos Estados Unidos, ainda que tenha havido um número razoável de publicações em revistas nacionais, principalmente, no Brasil na década de 1990. Os taxonomistas foram majoritariamente homens e parte considerável dos epítetos específicos homenagearam primatólogos, enquanto houve algumas homenagens aos povos originários. Esses padrões indicam a persistência de práticas coloniais e de dependência cultural-científica, evidenciadas pela prevalência dos vínculos externos dos autores, das publicações em periódicos estadunidenses e da sub-representação feminina. Contudo, há sinais de progresso decolonial, dada a crescente inclusão de pesquisadores nativos e homenagens às etnias indígenas, um ponto de partida para o reconhecimento e justa compensação dos povos. Consideramos que a reflexão decolonialista pode ser frutífera para superar legados coloniais na primatologia, sublinhando a necessidade de estratégias mais abrangentes e equitativas na pesquisa científica, como a exposição da temática em cursos de formação, políticas editoriais inclusivas, colaborações locais e equidade no financiamento.

Palavras-chave

Epistemologia científica, Primatologia, Teoria da Dependência

Área

Sistemática

Autores

Hermano Gomes-Nunes, Osvaldo Falcão, Lucas Moraes Aguiar