XX Congresso Brasileiro de Primatologia

Dados do Trabalho


Título

Exsudatos na dieta de macacos-prego [Sapajus nigritus] (Goldfuss 1809) no Jardim Botânico do Rio de Janeiro: indícios de novos itens alimentares

Corpo do texto

Zoofarmacognosia é o estudo da automedicação animal, uma forma de buscar novos compostos bioativos para uso humano/veterinário. Pouco documentada para primatas neotropicais, e inexistente no gênero Sapajus. O objetivo desse trabalho foi analisar plantas com potencial terapêutico consumidas por um grupo de macacos-prego com 30 indivíduos em vida livre no JBRJ. Realizou-se 50h de observação, entre Março-Maio 2023. Atividades de alimentação foram registradas ad libitum. Foram identificados 22 itens alimentares vegetais de 17 espécies. Dos 35 registros, 62,8% foram frutos, 22,8% folhas, 5,7% frutos verdes/imaturos, e 8,6% exsudatos. 76,5% dos itens pesquisados possuem compostos bioativos com propriedades farmacológicas conhecidas. A lista de espécies é alta para um tempo reduzido por ser um Jardim Botânico, com muita diversidade e espécies exóticas, permitindo hábitos alimentares adaptativos. O padrão de consumo alto de frutos, relatado na literatura, foi confirmado nas observações. Só foram encontrados na literatura relatos de consumo de exsudatos (seiva) por Sapajus em monoculturas de Pinus e Eucalyptus. A observação do consumo de exsudatos de Epipremnum aureum, Dracaena, e Artocarpus heterophyllus não foi documentada anteriormente. Dracaena (Asparagaceae) produz resina vermelha nas folhas e caule, conhecida como “sangue-de-dragão” usada na etnomedicina. Os macacos-prego consumiram sua resina, pecíolo das folhas e frutos verdes. Artocarpus heterophyllus (Moraceae), jaqueira, tem seus frutos muito ingeridos. Mas foi observado consumo do látex exsudado na quebra/mordida dos pedúnculos e dos pecíolos, principalmente em folhas jovens. Seu látex possui alto teor de resina, muitos compostos bioativos e uma cetona exclusiva. Epipremnum aureum (Araceae), a jiboia, teve seus pecíolos das folhas mordidos e consumidos junto ao látex. Entre seus compostos bioativos há o alcaloide nicotina em sua seiva, cristais de oxalato de cálcio insolúvel em todos os seus tecidos e glicosídeos cardíacos, considerados tóxicos. Um potencial uso terapêutico dos itens pode explicar o consumo pelos macacos-prego, sendo interessante mais investigações.

Financiadores

N/A

Palavras-chave

látex; resina; plantas tóxicas

Área

Ecologia

Autores

Cristiane Hollanda Rangel