XX Congresso Brasileiro de Primatologia

Dados do Trabalho


Título

Degustação tóxica: como macacos-prego evitam as defesas químicas dos gafanhotos

Corpo do texto

Os primatas platirrinos consomem muitas espécies de Orthoptera (gafanhotos, grilos, esperanças). Esta ordem tem espécies que possuem defesas químicas que atuam para afastar potenciais predadores, tornando-os tóxicos ou impalatáveis. Os gafanhotos da família Proscopiidae estão entre eles e são comuns na área de distribuição dos macacos-prego, sendo encontrados no bioma de caatinga, nas regiões nordeste do Brasil. Os macacos-prego são onívoros e consomem uma grande variedade de alimentos, alguns potencialmente tóxicos, sendo essencial adquirir informações sobre como lidar com esses recursos. Neste trabalho, descrevemos o processamento de gafanhotos “mané-mago” (Stiphra sp.) por macacos-prego selvagens (Sapajus libidinosus) no Parque Nacional Serra da Capivara, Piauí, e comparamos como indivíduos de diferentes idades lidam com este alimento potencialmente tóxico. O grupo Pedra Furada, composto por 40 indivíduos nesse período (8 machos adultos, 14 fêmeas adultas e 18 imaturos), foi acompanhado do amanhecer ao anoitecer. Nós registramos em vídeo os eventos em que os macacos-prego capturaram, processaram e se alimentaram dos gafanhotos, de 23 de março até 18 de abril de 2023, durante o período reprodutivo desses insetos. As observações foram feitas pelo método ad libitum durante a amostragem comportamental do grupo. Foram registrados 92 eventos com 17 indivíduos processando os gafanhotos (6 machos adultos, 5 fêmeas adultas e 6 imaturos). Para comparar a duração da manipulação das presas entre adultos e imaturos, ajustamos um modelo linear geral (GLM), com o tempo de manipulação como variável independente e a classe de idade como dependente. Usamos um modelo de distribuição gama. As análises foram realizadas no R. Nossos dados mostraram que ao se alimentar desses gafanhotos, os S. libidinosus evitam os intestinos, onde se encontram os componentes tóxicos. Os indivíduos imaturos levaram mais tempo para processar os gafanhotos, indicando que os macacos-prego precisam de tempo para aprender a processar e evitar as partes tóxicas.

Financiadores

Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP); Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES); Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)

Palavras-chave

Predação; Ontogenia; Toxicidade;

Área

Comportamento

Autores

Henrique Pereira Rufo, Luíza Gonzalez Ferreira, Eduardo Benedicto Ottoni, Tiago Falótico