Dados do Trabalho
Título
Riscos da interação entre humanos e macacos-prego [Sapajus nigritus] em um dos maiores remanescentes de Mata Atlântica do Brasil
Corpo do texto
A estreita interação entre seres humanos e primatas geralmente ocorre por meio da oferta de alimentos. Entretanto, essa prática aumenta o risco de problemas de saúde e transmissão de doenças, representando uma ameaça à biodiversidade. Considerando a intensa interação entre visitantes e o macaco-prego (Sapajus nigritus) no Parque Estadual do Rio Doce, em Minas Gerais, foram realizadas análises clínicas e virais em indivíduos dessa espécie. Em agosto de 2022, estes indivíduos foram habituados por um mês e capturados em armadilhas iscadas, dispostas em quatro locais de amostragem, variando conforme o nível de interação humana. Foram capturados 30 macacos-prego para avaliação clínica, e coleta de amostras biológicas visando detecções virais. Dos primatas capturados, 18 estavam em áreas com alta interferência humana e 12 em áreas com baixa interferência. Oito apresentaram lesões de queimaduras, possivelmente causadas pelo forrageio nas churrasqueiras e/ou fiação elétrica. Cerca de 20% dos macacos manifestaram alopecia nas extremidades caudais, potencialmente ligada a comportamentos de higiene ou alterações metabólicas. Na análise dentária, 87% apresentaram tártaro, 40% fraturas dentárias e quase 20% cáries. Destes, respectivamente, 57,7%, 75% e 80% estavam presentes em áreas com maior interação humana, ressaltando as consequências adversas dessas interações. Já as análises virais não indicaram infecção por arbovírus, orthopoxvírus e para 15 dos 16 vírus respiratórios, incluindo COVID-19. No entanto, dois indivíduos da região com alta interação humana testaram positivo para o vírus sincicial respiratório, transmitido por humanos e fatal para primatas do Velho Mundo. A inédita detecção desse vírus em primatas neotropicais destaca um novo risco associado à proximidade com visitantes no parque, sugerindo transmissão por interação humana. A partir disso, iniciativas de sensibilização foram implementadas, instruindo os visitantes sobre os impactos prejudiciais das interações diretas com a fauna e da alimentação indevida, a preservação do parque e a conservação de espécies nativas.
Financiadores
Ministério Público do Trabalho em Minas Gerais
Palavras-chave
Primatas; floresta tropical; zoonoses
Área
Manejo e Conservação
Autores
Vanessa de Paula Guimarães-Lopes, Natasha Grosch Loureiro, Isabela Normando Mascarenhas, Larissa Vaccarini Ávila, Ana Yasha Ferreira de La Salles, Iago José da Silva Domingos, Iara Monteiro de Almeida, Ana Gabriella Stoffella Dutra, Gabriela Pereira Ribeiro, Pedro Henrique Bastos e Silva, Karolina Lopes Dias, Débora de Meneses Souza de Oliveira, Giliane de Souza Trindade, Rodrigo Lima Massara, Flávio Henrique Guimarães Rodrigues, Fabiano Rodrigues de Melo